Confusas Confissões...
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim q m deixa exausta. Eu sei sorrir c/ os olhos e gargalhar c/ o corpo td. Sei chorar td encolhida abraçando as prnas. P/isso, ñ m vnha com 1/²-trmos, c/ +ou-, ou qlqr coisa. Vnha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar... Eu acredito em profundidads e tnho medo d altura,mas ñ evito meus abismos. São eles q m dão a dimensão do que sou.
sexta-feira, janeiro 14, 2011
segunda-feira, junho 28, 2010
domingo, abril 18, 2010
Escolhas de uma vida
A certa altura do filme'Crimes e Pecados', o personagem interpretado por Woody Allen diz: "Nós somos a soma das nossas decisões".
Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.
Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida".
Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.
As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...
Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.
Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.
Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.
Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!
A certa altura do filme
Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.
Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida".
Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.
As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...
Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.
Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.
Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.
Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!
sábado, abril 10, 2010
Tarde Chuvosa
O dia amanheceu tão bonito. Ela pensou enquanto observava a chuva cair da grande janela da sala. O jardim de seu avô mal podia ser visto devido à intensidade com que a água caía. As crianças, todas, estavam perambulando pela casa a procura de algo pra fazer e resmungando quando se davam conta de que realmente não tinha nada pra fazer.
Livros de colorir, gibis, fitas de vídeos e jogos de tabuleiros, todos espalhados pela sala, naquela bagunça comum de criança. Os meninos tentavam fazer com que o gato andasse no caminhãozinho. Enquanto as meninas tentavam vesti-lo com algum vestido de boneca.
Justine observava tudo aquilo sustentando um sorriso. Esses dias chuvosos a lembravam de quando era criança. Ela costumava fazer a mesma coisa, espalhar seus brinquedos, tentar vestir o gato, sair perambulando pela casa procurando algo com que se entreter. E, quando o cheiro de bolinho de chuva invadiu suas narinas, sem nem ao menos lhe pedir permissão lágrimas ameaçaram cair de seus olhos – sua mãe era quem costumava fazê-los. Era a alegria das tardes chuvosas. Macios, cheirosos e com a quantidade certa de açúcar e canela. Para acompanhar, o chocolate quente mais delicioso do mundo.
- O que foi Justine? – Um dos meninos perguntou quando notou o olhar molhado da prima.
- Nada querido. Você sentiu esse cheiro? – Ela perguntou colocando-o em seu colo. O menino fez que sim com a cabeça e sorriu, entendendo o que aquele cheiro significava.
- A vovó está fazendo bolinho de chuva! – Ele falou animado e saiu correndo para contar as outras crianças.
Justine sorriu com a alegria que tinha tomado conta da sala, que segundos atrás suportava somente o barulho causado pelos miados do gato, que agora ameaçava arranhar qualquer pessoa que se aproximasse dele. Ela se levantou e caminhou até o rádio, colocando um velho disco dos Beatles que as crianças gostavam – porque tinha um grande submarino amarelo na capa – e depois foi para a cozinha fazer companhia a avó.
A cozinha era o lugar favorito da casa de todo mundo. As crianças gostavam de lá porque eram espertas o suficiente para saber que, em alguma porta dos diversos armários espalhados por lá, tinha um paraíso de chocolates, balas e biscoitos, e mesmo que elas fizessem turnos para descobrir onde estava essa porta, elas não a haviam encontrado ainda (o que não sabiam é que Justine guardava os doces na prateleira de livros na sala, jamais pensaram em procurar lá), já os adultos, ou aqueles que se consideravam adultos, gostavam da cozinha porque sabiam que em dado momento um café fresquinho sairia, seguido de bolo e quem sabe, se o avô estivesse de bom humor, uma boa conversa jogada fora regada a cigarros.
Justine se jogou na mesa e se pôs a folhear o livro de receitas que sempre ficava por lá. Aparentemente a avó nem tinha notado sua presença, então ela continuou em silêncio. O livro era uma peça rara e muito estimado naquela família. A maioria trabalhava com comida ou gostava simplesmente de cozinhar. Para Justine, aquilo era sua bíblia e o maior responsável pelo seu sucesso.
- Oh… Justine, não ouvi você entrar. Por que a sala está tão barulhenta? – A avó perguntou desconfiada. – Hum… Não me diga que eles descobriram que eu fiz bolinho de chuva. – Justine fez que sim com a cabeça. – Droga, eu queria fazer sossegada, daqui a pouco vai ter um enxame me pedindo um pedacinho e quando eu me der conta não vai sobrar mais nada.
- Acho que não. Eu coloquei Beatles pra eles ouvirem e, além disso, acho que eles estão muito ocupados com o gato.
- Sei, e você, por que não está lá ocupada com o gato?
- Bom, tirando o fato que eu tenho vinte anos, o gato já estava ficando arisco. Não queria que ninguém chegasse perto.
- Entendi. E o trabalho, você não vai hoje?
- Não. Eles não precisam de mim hoje.
- Ah…
As duas ficaram em silêncio ocupadas com seus pensamentos. Justine folheando o livro e lembrando-se do dia da festa de Anabel e a avó concentrada em fazer bolinhas perfeitas com a massa do bolinho de chuva.
A porta da cozinha abriu e por ela entraram seu avô, seu primo Jorge e o garoto que não saía da cabeça de Justine fazia duas semanas. Os três estavam encharcados, mas mesmo assim sustentavam um enorme sorriso no rosto.
- Sai! – A avó gritou escandalizada. – Eu acabei de limpar esse chão e vocês entram com os pés molhados. Onde já se viu. Antonio, não fique ai parado, você também Jorge, e dê uma toalha ao seu amigo!
Justine ainda estava tentando assimilar que Joaquim estava parado bem na sua frente. Durante duas semanas ela aguardou ansiosamente que ele entrasse em contato. Uma mensagem através de Jorge serviria, mas ele não disse nada, não telefonou e nem deu sinal de vida. E agora ele estava parado bem na sua frente e tudo que ela podia pensar era no quanto ele ficava bonito molhado.
- Oi Joaquim. – Ela falou sem pensar e instantaneamente ficou vermelha. Nem deu tempo de ele responder e ela se levantou para pegar toalhas.
A sala continuava uma bagunça, mas pelo menos as crianças tinham dormido. Justine pôde sorrir com isso. Yellow Submarine era perfeito pra fazer com que eles se acalmassem.
Ela demorou o máximo possível para ir até o armário do corredor, implorando para que a vermelhidão em seu rosto passasse ou para que, pelo menos, ele tivesse ido embora. Quando retornou a cozinha viu que ele continuava ali. Se sentindo derrotada entregou a toalha a cada um deles e se sentou.
- O que foi Justine. Você está estranha? – O avô perguntou.
- Não é nada. Só estou cansada acho.
- Sei.
Se sentindo totalmente desconcertada, Justine resolveu ir fumar um cigarro lá fora. A casa tinha uma varanda coberta e a chuva já tinha diminuído um pouco, então ela nem se molharia.
- Vô, onde você guardou o cigarro? – Ela perguntou se levantando e vestindo uma capa de chuva rosa um pouco pequena pra ela.
- Eu tenho aqui no me bolso. – Quem respondeu foi Joaquim, que se levantou e parou ao seu lado. – Eu te acompanho. Justine sorriu se virou para a porta e fechou os olhos bem forte, implorando – e forçando – para não ficar vermelha.
Os dois saíram para a varanda e se sentaram no balanço, que estava levemente molhado, mas nenhum dos dois ligou. Justine se sentou relativamente afastada dele, não tinha a mínima idéia do que dizer então se limitou a pegar o cigarro que ele oferecia. Acendeu e deu uma tragada bem rápido, tudo para não falar.
- Então… – Joaquim começou. Justine deu um sorriso amarelo.
Aparentemente isso fez com que Joaquim perdesse a coragem de falar e ele se pôs a somente fumar e observar o jardim. Justine, como a pessoa descontrolável que era – ou talvez fosse a convivência com as crianças – começou a rir descontroladamente.
- O que foi? – Ele perguntou surpreso.
- Nada, acho que é só um espasmo. Sério. – Ela respondeu gargalhando. Obviamente ele começou a rir também e, quando eles viram, já estavam se beijando, os cigarros esquecidos.
- Justine? – Uma voz de criança chamou, mas ela ignorou. – Justine?
- Hum… – Quando ela virou se deparou com Anabel, que sorria enquanto chupava o dedo. – Sim! Anabel!
- A vovó disse que o bolinho ta pronto.
Justine sorriu. Olhou para Joaquim e ele lhe retribuiu o sorriso, além de lhe dar mais um beijo. Eles se levantaram e entraram na cozinha, que agora cheirava completamente a bolinho de chuva, canela, açúcar e chocolate quente. As crianças já estavam amontoadas em cima dos bolinhos e, quando seus olhos se cruzaram com os da avó, essa lhe lançou um sorriso afetado.
Justine adorava tardes chuvosas.
Gabriela P.
sábado, abril 03, 2010
Pequenos contos de horror
A vida humana sempre é fascinante... e estranha! Nunca podemos realmente afirmar o que quer que seja sobre ela. Muitas coisas parecem normais e compreensíveis, mas... nem sempre as coisas são assim! É o segredo da vida humana... ou seria da morte humana? Nunca parei para pensar muito sobre isto, pois, de qualquer forma, os resultados sempre são os mesmos!
Espero, caros leitores, que as pequenas histórias que acompanharão a seguir demonstrem bem que existem mais coisas na vida do que a nossa vil racionalidade – na verdade, existem bem mais coisas irracionais do que racionais! A beleza que podemos captar com nossa racionalidade de se acordar vivo é tão impressionante quanto o horror irracional de não se acordar!
A primeira história é bem simples: o que uma linda menina ruiva poderia pensar de mal ao encontrar um pequeno cachorro de brinquedo jogado na rua? Nada de muito importante, além de seu destino! Ela poderia tê-lo deixado na rua e ter continuado sua jornada... mas quis o brinquedo! E, sem querer, descobriu o terror!
***
A menina ruiva, vestida com calça de jeans preto e camisa branca com uma linda rosa estampada, brincava tranqüilamente na frente da sua casa, na calçada, mexendo seus longos cabelos vermelhos, quando viu um pequeno cachorro de brinquedo jogado no chão, do outro lado da rua. Ela atravessou correndo a rua e pegou o pequeno cachorro de brinquedo, olhando-o fascinada. Era um objeto antigo e pouco conservado, pouco atraente como brinquedo. Sujo e velho – mas, mesmo assim, a menina ruiva, inexplicavelmente, o adorou. Ela sorriu e, atravessando a rua outra vez, correndo como antes, levou-o para dentro de casa.
Ela deitou no sofá da sala e observou o brinquedo com profunda admiração. Seus pais não estavam e o silêncio da casa combinava bem com o olhar estático da menina ruiva no pequeno cachorro de brinquedo. Ela não entendia o fascínio que este pequeno cachorro de brinquedo produzia. Suas formas, seus contornos, suas cores – algo no pequeno cachorro de brinquedo era lindo e misterioso para a menina ruiva.
Ela fechou os olhos e segurou o pequeno cachorro de brinquedo no seu peito, amassando a linda rosa estampada em sua camisa branca, e adormeceu mais feliz do que em qualquer outro momento de sua vida.
Pouco depois, ela começou a ouvir latidos – latidos longos e profundos. Abriu os olhos e os latidos continuaram sempre longos e profundos. A menina ruiva estranhou: nunca ouvira estes latidos antes. Os cachorros da vizinhança latiam bastante, é verdade, mas jamais desta forma.
A menina ruiva olhou pela janela da sala e não viu cachorro algum. Na verdade, não viu viva alma: estava tudo deserto e, com exceção os latidos longos e profundos, que ficavam cada vez maiores e mais próximos, parecia que não existiam outros sons na rua. Ela abraçou o pequeno cachorro de brinquedo ainda mais forte.
Segundos depois, os latidos longos e profundos aproximaram-se e a menina ruiva se assustou. A porta da entrada começou a ser forçada violentamente, com estocadas muito fortes, como se alguém – ou algo – quisesse entrar.
Ela correu para seu quarto, ainda segurando o pequeno cachorro de brinquedo, trancando a porta. Ela gritava por socorro, mas seus gritos eram encobertos pelos latidos longos e profundos. Um terrível barulho rompeu-se pela casa: a porta da frente da casa fora quebrada. Os latidos longos e profundos, logo, ficaram mais próximos e a porta do seu quarto, assim como a da sala pouco antes, começou a ser forçada violentamente.
A menina ruiva tentou sair pela janela, mas esta não abria. No seu desespero, ela largou o pequeno cachorro de brinquedo na sua cama. E, estranhamente, tudo ficou silencioso. Os latidos longos e profundos cessaram, assim como as estocadas na porta. Ela virou-se lentamente para sua cama e, para seu espanto, não viu o pequeno cachorro de brinquedo.
A menina ruiva, finalmente, ouviu os barulhos da rua. E um carro chegando – eram seus pais! Ela sentiu-se feliz e segura. Abriu a porta do seu quarto e correu até a sala. Estava abrindo a porta da sala, sem marca alguma, para sair e abraçar seus pais quando se assustou outra vez: ouviu um berro desesperado na rua!
A menina ruiva saiu e viu sua mãe, chorando em total desespero, enquanto seu pai a segurava, chorando igualmente. Ambos olhavam na frente do portão da casa, mais especificamente na calçada onde ela estava brincando antes de ver o pequeno cachorro de brinquedo.
Sua mãe gritava “Minha filha! Minha filha!” Tudo estava confuso na mente da menina ruiva. Andando lentamente, tomada de pavor, a menina ruiva se aproximou da rua e viu o que estava acontecendo: um pequeno corpo inerte caído na rua, vestindo calça de jeans preto, com marcas de sangue na linda rosa estampada na camisa branca. Longos cabelos vermelhos estavam jogados no chão. Marcas de mordidas se espalhavam pelo corpo. Mordidas de cachorro.
A menina ruiva andou, por algum tempo, totalmente tonta. E, algum tempo depois, viu um menino brincando na calçada, provavelmente na frente da sua casa. Do outro lado da rua ela viu um pequeno carro de brinquedo. Era um objeto antigo e pouco conservado, pouco atraente como brinquedo. Sujo e velho.
O menino viu o pequeno carro de brinquedo e foi atrás dele. Ela sorriu e falou para si mesma: “Ele vai morrer atropelado!” E, pouco depois, ela desapareceu. Para sempre.
***
Crianças devem sofrer os terrores da vida e da morte? Por mais moralistas que sejamos não podemos nos esquecer de um detalhe: o terror sempre acompanha qualquer aspecto da vida, indiferentemente à idade. Neste caso, podemos afirmar positivamente que qualquer criança pode sofrer os terrores da vida e da morte – o terror não tem critérios de escolha.
E o homem adulto, tem tais critérios para, digamos, fugir do terror? Em muitos sentidos, sim: ele pode escolher seus caminhos e evitar problemas – e a traição sempre será um grande problema humano, ainda mais envolvendo marido e mulher. Será possível esquecer uma traição? E, principalmente, o que fazer quando se viu a traição? Esquecer? Separar? Assassinar? Na história humana esta última alternativa tem sido a mais usada – e, sendo a mais radical, a que mais produz efeitos!
A história que se segue demonstra bem que as traições e assassinatos podem ser mais trágicos do que seus protagonistas desejam!
***
Um homem andava tranqüilamente na sua fazenda numa linda noite. A lua cheia iluminava seu caminho e, com exceção do barulho de alguns porcos no chiqueiro, tudo estava silencioso. Ele, então, entrou no celeiro e acendeu a luz que tinha no local.
O celeiro era um grande galpão com ferramentas espalhadas no chão, capim, algumas sacas de alimentos e várias roldanas com cordas anexas, quase todas estas cordas com ganchos nas pontas, para carregar as sacas nos veículos da fazenda ou para transferi-las de lugar – apenas uma, a maior, estava sem corda. O homem olhou para esta roldana. Imagens vieram em sua mente. Imagens e diálogos recentes.
“Lamentamos informar que sua esposa faleceu! – disse o policial. – Aparentemente ela se enforcou no celeiro. Ela prendeu uma corda na roldana maior, colocou a ponta desta corda no pescoço e saltou. Sinto muito informá-lo disto!”
O homem sorriu no meio de suas lembranças. Ele não lamentava o que tinha acontecido – fora ele quem amarrara a corda na roldana e ponta desta mesma corda no pescoço da esposa e a jogara lá de cima.
“Traidora desgraçada!”, ele pensou. Ela merecia, sim, o fim que teve! A traição era um crime gravíssimo para ele – inaceitável! O homem fechou os olhos e lembrou daquele fatídico dia em que tinha chegado mais cedo em sua casa e ouvido sons estranhos no seu quarto. Ele suavemente aproximou-se do quarto e olhou no espaço entreaberto da porta. Viu sua esposa com os olhos arregalados e um grande sorriso de prazer enquanto sentia-se mulher com outro homem!
Ele olhou para a roldana, que agora balançava um pouco, e sorriu ainda mais. Lembrava de ter gritado em desespero na frente do policial. Lembrava de sair correndo para o celeiro e sendo segurado por todos que estavam ali. Lembrava de chorar como uma criança no enterro. E também lembrava o quanto ele, antes de matá-la, tinha ensaiado todas estas reações.
A roldana balançou mais forte enquanto o homem ainda pensava. Outra imagem surgiu em sua mente naquele momento: sua esposa enforcada naquela roldana. Fora difícil levá-la no celeiro, mas já estava tudo pronto: a corda já estava na roldana, devidamente presa. Bastou levá-la para o local mais alto, colocar a corda no seu pescoço e jogá-la. Ela ficou balançando por um bom tempo. Ele a viu, estranhamente, como a tinha visto no momento da traição: seus olhos estavam arregalados e sua boca exibia um grande sorriso.
A porta do celeiro bateu violentamente e fechou. A luz apagou. O homem, surpreso, olhou para os lados e nada viu. A roldana continuava balançando, um pouco mais forte desta vez, agora iluminada apenas pela luz do luar.
Ele percebeu que a roldana balançava como balançou naquela noite, como se estivesse com a corda e com o corpo de sua esposa. Percebeu também que não estava ventando. Ele estranhou e aproximou-se, ficando debaixo da roldana. E, neste exato momento, a roldana parou. E ele viu uma imagem que o aterrorizou: lá estava o corpo de sua esposa. Ela inclinou a cabeça para baixo e o encarou. Ela estava com os olhos arregalados e um grande sorriso.
Logo, a roldana caiu. Um grito foi dado. E tudo ficou silencioso outra vez, com exceção do barulho dos porcos no chiqueiro. Encontraram o corpo do homem de manhã. Quem o encontrou não pode esconder seu horror: apesar da roldana ter esmagado a cabeça, deu para perceber que o homem morrera de olhos arregalados e com um enorme sorriso.
***
Juntos na vida e juntos na morte! Os desejos humanos são facilmente realizados. “Cuidado com o que você quer, menina, pois pode acabar conseguindo!”, diz o ditado popular. Ambos conseguiram o que desejavam – ela um amor ou desejo satisfeito, ele a morte da traidora. Ambos também conseguiram o que não desejavam – a morte! Coisas da vida, digamos. Coisas da morte, afirmamos!
Desejos podem ser poderosos e perigosos. Nada é mais poderoso do que os desejos de uma mãe para o melhor de seus filhos! E, também, nada pode ser mais perigoso quando elas sentem que não fizeram tudo o que tinham de fazer. Será que as mães sempre ficam satisfeitas com seu amor dado aos filhos? E, quando não, como será tentar voltar atrás e dar tudo o que não conseguiram antes? É possível? É desejável???
A história que se segue mostra a força dos desejos maternos – e seus perigos, ainda mais quando se tenta voltar a um tempo que não pode mais ser retomado.
***
Um carro aproximou-se da imensa casa rodeada de árvores. O portão, automático, abriu-se e o carro rapidamente entrou iluminado por um raio muito intenso seguido de um trovão retumbante. A chuva começaria logo, mas parecia não importar à mulher dentro do carro. Depois de seguir uma pequena pista feita de pedras, ela estacionou o carro na frente da imensa casa. A chuva começou lentamente e alguns pingos a atingiram. Seu rosto triste mostrava que ela nada tinha sentido.
Dentro da casa a mulher dirigiu-se ao bar, encheu um copo com uísque e sentou-se no imenso sofá na sala. Vieram outros raios e trovões, seguidos de uma forte chuva. A mulher pegou um retrato sobre uma mesinha perto do sofá, que continha a fotografia de um menino, com aproximadamente 10 anos de idade. Ela tomou um longo gole de uísque e algumas lágrimas escorreram de seu rosto. Ela encostou o retrato no seu peito e começou a chorar mais forte.
O barulho da chuva caindo e o soluçar da mulher retumbavam por toda a casa, sendo que seu soluçar parou pelo tocar do telefone. Ela pegou o telefone.
- Ah, é você! – respondeu a mulher, com desprezo. – O que você quer? COMO? Você quer saber se estou bem? CLARO QUE NÃO! Só um medíocre como você poderia perguntar algo assim depois do que aconteceu... NÃO ESTOU GRITANDO! E, sim, ESTOU BEBENDO, SIM! Não é da sua conta o que eu faço... O QUÊ? Como ousa dizer isto, seu CANALHA! Mais do que ninguém EU O AMAVA! NÃO ME FALE DAQUELE DIA!!! DEIXE-ME EM PAZ! – e desligou brutalmente o telefone, indo até o bar para encher o copo com uísque novamente. Voltou-se a sentar no sofá, exatamente como estava sentada antes do telefonema. E segurou o retrato exatamente como tinha segurado antes. Seu soluçar ficou mais alto e suas lágrimas aumentaram.
- Não fui eu, amor! Não fui eu! – ela falava, entre um gole e outro de uísque, entre uma lágrima e outra que caía a cada soluçar. Raios, trovões e chuvas completavam o som do local. Logo, ela adormeceu.
Um trovão muito forte a acordou. Tudo estava apagado, pois a energia elétrica havia acabado por causa do mau tempo. O copo, vazio, estava caído no chão. O retrato ainda estava no seu peito. Ela levantou-se, ainda zonza e com dor de cabeça, sem saber para onde queria ir. Um raio iluminou a sala e ela, intrigada, viu a figura de um menino. O mesmo do retrato.
- Oi, mamãe! – disse o menino, com uma expressão vazia no rosto.
Ela abriu os olhos e sorriu. Não estava mais zonza nem a cabeça doía mais. Ela correu até o menino e o abraçou, ajoelhando-se. Abraçou com muita vontade.
- Meu filho! MEU FILHO! É você, não? Sim, É VOCÊ! Pensei que jamais o viria outra vez! – e abraçava forte o menino, que, por sua vez, não mudava a expressão vazia do rosto. – Estava com saudades de você, meu filho! – disse a mulher, chorando e rindo ao mesmo tempo.
- Eu sei, mamãe! – disse o menino sem maiores emoções. – Estou aqui como você queria.
Ela chorava muito e o abraçava com força.
- Andou bebendo de novo, mamãe? – perguntou o menino com frieza.
Ela olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas.
- Não importa! – ela disse. – O que importa é que você voltou!
Ele manteve-se impassível enquanto andou para o centro da sala, desvinculando-se do abraço dela.
- Naquele dia você bebeu, mamãe! Lembra-se? – ele disse, olhando para o copo caído no chão. – Você e papai brigaram feio na cidade e você me trouxe para cá. Você bebeu muito naquele dia!
Ela levantou-se e, parando de chorar, olhou com preocupação para o menino.
- Por que você está falando estas coisas? Aquele dia passou e você está aqui!
- Aliás, você sempre bebeu! – continuou dizendo o garoto, sem emoções. – Desde que me conheço por gente! Nossa vida sempre foi ver você beber e brigar com papai ou brigar com papai e beber. Sempre a mesma coisa.
Ele pegou o copo do chão e o olhou profundamente. Viu ainda um pouco de uísque no seu interior.
- O que isto tem que eu nunca tive, mamãe? – perguntou o menino. – Meu sorriso, minhas notas na escola, minhas brincadeiras... nada disso conseguia fazer você olhar para mim – você sempre olhou para isto!
Ele continuou olhando para o copo.
- Naquele dia, vindo para cá, tudo ficou escuro por um momento... lembro muito pouco daquele dia. – disse o menino. – Na verdade, a única coisa que me lembro bem foi o seu cheiro disto antes de tudo ficar escuro, mamãe!
- Meu amor! – disse a mulher, aproximando-se do menino, tirando o copo de sua mão, abaixando-se para poder olhar dentro dos seus olhos. – Tudo isto passou, meu amor! Errei muito antes e jamais te dei o amor que deveria ter te dado... mas, agora, com a sua volta, tudo será diferente! Aquele dia acabou e não acontecerá de novo! Não é tarde, meu amor! Tenho outra chance para te dar todo o amor que jamais te dei! Ainda não é tarde!
Pela primeira vez na noite, ele sorriu. Mas ela ficou mais assustada do que propriamente calma com este sorriso. Seu sorriso era aterrorizante, não confortador.
- É tarde sim, mamãe! – respondeu o menino. – Mais tarde do que você imagina!
Ele começou a pular pela sala, gritando histericamente “MAMÃE! MAMÃE! MAMÃE!”, enquanto que os raios, trovões e a chuva continuavam inabaláveis.
- Meu amor, o que aconteceu? – disse a mulher, chorando.
- Você nunca me amou, mamãe! – respondeu o menino, ainda pulando. – Jamais amou alguém!
- EU TE AMO!!! – ela gritou.
Ele parou de pular e a olhou profundamente.
- Não me amou quando eu estava vivo... como poderia me amar agora? – e, no final destas palavras, ele sorriu. O mesmo sorriso aterrorizante de momentos atrás.
Ela parou de chorar e, paralisada, tentou entender as palavras de seu filho.
- Você me matou naquele dia, mamãe! – respondeu o menino, iluminado por um raio. – Desde que você saiu do hospital que não se conforma com isto e vive me chamando... não quis vir aqui, mas tinha de vir depois de tantos chamados.
Ela estava paralisada.
- Não quis vir porque te odeio, mamãe! – ele respondeu. – Mas estou aqui, certo? Vim aqui para te pegar! – ele disse, sorrindo. – Vamos brincar de esconde-esconde? Nunca brincamos disso! Enquanto eu me viro na parede e começo a contar até 50 e você vai se esconder e eu vou te achar... para sempre!
Ele encostou o rosto na parede e começou a contar, falando os números bem alto. Ela, aterrorizada, começou a correr. Subiu as escadas, entrou no seu quarto e fechou a porta, passando a chave com afobação.
- Perdoe-me, meu amor! Meu filhinho amado! – ela, ajoelhada na porta do quarto, falava chorando.
- Eu vou te achar, mamãe! – o menino disse, com sua voz bem perto da porta. A maçaneta da porta começou a ser mexida com força. Ela afastou-se da porta, andando de costas.
- TE PEGUEI, MAMÃE! TE PEGUEI!!! – gritou o menino, surgindo atrás da mulher! – Agora estaremos juntos... PARA SEMPRE!!!
O menino estava diferente: seu rosto apresentou-se deteriorado, assim como seu corpo, sendo que suas roupas estavam rasgadas e sujas. Este era sua verdadeira forma agora.
Ela, horrorizada, não viu a janela nas suas costas e caiu, dando um longo grito de agonia.
O menino, olhando pela janela o corpo de sua mãe no chão, comentou:
- Estaremos sempre juntos, mamãe! – disse o menino, com a expressão do rosto, todo deteriorado, indiferente. – Juntos no INFERNO!!!
A chuva continuou junto dos raios e trovões. E a mamãe e seu filho ficaram eternamente juntos... no INFERNO!
***
É quase sempre impossível voltar no tempo e refazer o que tinha de ser feito... talvez seja o pior dos terrores humanos! Aproveitar o momento, não perder a chance de fazer o que tem de ser feito ou esperar para depois? Eis uma questão que nunca será resolvida!
Espero, caros leitores, que vocês tenham gostado destas pequenas histórias. Caso sim, um abraço! Caso não... vocês serão os próximos protagonistas destas e outras histórias! E, como viram, o final sempre é infeliz!
Espero, caros leitores, que as pequenas histórias que acompanharão a seguir demonstrem bem que existem mais coisas na vida do que a nossa vil racionalidade – na verdade, existem bem mais coisas irracionais do que racionais! A beleza que podemos captar com nossa racionalidade de se acordar vivo é tão impressionante quanto o horror irracional de não se acordar!
A primeira história é bem simples: o que uma linda menina ruiva poderia pensar de mal ao encontrar um pequeno cachorro de brinquedo jogado na rua? Nada de muito importante, além de seu destino! Ela poderia tê-lo deixado na rua e ter continuado sua jornada... mas quis o brinquedo! E, sem querer, descobriu o terror!
Ela deitou no sofá da sala e observou o brinquedo com profunda admiração. Seus pais não estavam e o silêncio da casa combinava bem com o olhar estático da menina ruiva no pequeno cachorro de brinquedo. Ela não entendia o fascínio que este pequeno cachorro de brinquedo produzia. Suas formas, seus contornos, suas cores – algo no pequeno cachorro de brinquedo era lindo e misterioso para a menina ruiva.
Ela fechou os olhos e segurou o pequeno cachorro de brinquedo no seu peito, amassando a linda rosa estampada em sua camisa branca, e adormeceu mais feliz do que em qualquer outro momento de sua vida.
Pouco depois, ela começou a ouvir latidos – latidos longos e profundos. Abriu os olhos e os latidos continuaram sempre longos e profundos. A menina ruiva estranhou: nunca ouvira estes latidos antes. Os cachorros da vizinhança latiam bastante, é verdade, mas jamais desta forma.
A menina ruiva olhou pela janela da sala e não viu cachorro algum. Na verdade, não viu viva alma: estava tudo deserto e, com exceção os latidos longos e profundos, que ficavam cada vez maiores e mais próximos, parecia que não existiam outros sons na rua. Ela abraçou o pequeno cachorro de brinquedo ainda mais forte.
Segundos depois, os latidos longos e profundos aproximaram-se e a menina ruiva se assustou. A porta da entrada começou a ser forçada violentamente, com estocadas muito fortes, como se alguém – ou algo – quisesse entrar.
Ela correu para seu quarto, ainda segurando o pequeno cachorro de brinquedo, trancando a porta. Ela gritava por socorro, mas seus gritos eram encobertos pelos latidos longos e profundos. Um terrível barulho rompeu-se pela casa: a porta da frente da casa fora quebrada. Os latidos longos e profundos, logo, ficaram mais próximos e a porta do seu quarto, assim como a da sala pouco antes, começou a ser forçada violentamente.
A menina ruiva tentou sair pela janela, mas esta não abria. No seu desespero, ela largou o pequeno cachorro de brinquedo na sua cama. E, estranhamente, tudo ficou silencioso. Os latidos longos e profundos cessaram, assim como as estocadas na porta. Ela virou-se lentamente para sua cama e, para seu espanto, não viu o pequeno cachorro de brinquedo.
A menina ruiva, finalmente, ouviu os barulhos da rua. E um carro chegando – eram seus pais! Ela sentiu-se feliz e segura. Abriu a porta do seu quarto e correu até a sala. Estava abrindo a porta da sala, sem marca alguma, para sair e abraçar seus pais quando se assustou outra vez: ouviu um berro desesperado na rua!
A menina ruiva saiu e viu sua mãe, chorando em total desespero, enquanto seu pai a segurava, chorando igualmente. Ambos olhavam na frente do portão da casa, mais especificamente na calçada onde ela estava brincando antes de ver o pequeno cachorro de brinquedo.
Sua mãe gritava “Minha filha! Minha filha!” Tudo estava confuso na mente da menina ruiva. Andando lentamente, tomada de pavor, a menina ruiva se aproximou da rua e viu o que estava acontecendo: um pequeno corpo inerte caído na rua, vestindo calça de jeans preto, com marcas de sangue na linda rosa estampada na camisa branca. Longos cabelos vermelhos estavam jogados no chão. Marcas de mordidas se espalhavam pelo corpo. Mordidas de cachorro.
A menina ruiva andou, por algum tempo, totalmente tonta. E, algum tempo depois, viu um menino brincando na calçada, provavelmente na frente da sua casa. Do outro lado da rua ela viu um pequeno carro de brinquedo. Era um objeto antigo e pouco conservado, pouco atraente como brinquedo. Sujo e velho.
O menino viu o pequeno carro de brinquedo e foi atrás dele. Ela sorriu e falou para si mesma: “Ele vai morrer atropelado!” E, pouco depois, ela desapareceu. Para sempre.
E o homem adulto, tem tais critérios para, digamos, fugir do terror? Em muitos sentidos, sim: ele pode escolher seus caminhos e evitar problemas – e a traição sempre será um grande problema humano, ainda mais envolvendo marido e mulher. Será possível esquecer uma traição? E, principalmente, o que fazer quando se viu a traição? Esquecer? Separar? Assassinar? Na história humana esta última alternativa tem sido a mais usada – e, sendo a mais radical, a que mais produz efeitos!
A história que se segue demonstra bem que as traições e assassinatos podem ser mais trágicos do que seus protagonistas desejam!
Um homem andava tranqüilamente na sua fazenda numa linda noite. A lua cheia iluminava seu caminho e, com exceção do barulho de alguns porcos no chiqueiro, tudo estava silencioso. Ele, então, entrou no celeiro e acendeu a luz que tinha no local.
O celeiro era um grande galpão com ferramentas espalhadas no chão, capim, algumas sacas de alimentos e várias roldanas com cordas anexas, quase todas estas cordas com ganchos nas pontas, para carregar as sacas nos veículos da fazenda ou para transferi-las de lugar – apenas uma, a maior, estava sem corda. O homem olhou para esta roldana. Imagens vieram em sua mente. Imagens e diálogos recentes.
“Lamentamos informar que sua esposa faleceu! – disse o policial. – Aparentemente ela se enforcou no celeiro. Ela prendeu uma corda na roldana maior, colocou a ponta desta corda no pescoço e saltou. Sinto muito informá-lo disto!”
O homem sorriu no meio de suas lembranças. Ele não lamentava o que tinha acontecido – fora ele quem amarrara a corda na roldana e ponta desta mesma corda no pescoço da esposa e a jogara lá de cima.
“Traidora desgraçada!”, ele pensou. Ela merecia, sim, o fim que teve! A traição era um crime gravíssimo para ele – inaceitável! O homem fechou os olhos e lembrou daquele fatídico dia em que tinha chegado mais cedo em sua casa e ouvido sons estranhos no seu quarto. Ele suavemente aproximou-se do quarto e olhou no espaço entreaberto da porta. Viu sua esposa com os olhos arregalados e um grande sorriso de prazer enquanto sentia-se mulher com outro homem!
Ele olhou para a roldana, que agora balançava um pouco, e sorriu ainda mais. Lembrava de ter gritado em desespero na frente do policial. Lembrava de sair correndo para o celeiro e sendo segurado por todos que estavam ali. Lembrava de chorar como uma criança no enterro. E também lembrava o quanto ele, antes de matá-la, tinha ensaiado todas estas reações.
A roldana balançou mais forte enquanto o homem ainda pensava. Outra imagem surgiu em sua mente naquele momento: sua esposa enforcada naquela roldana. Fora difícil levá-la no celeiro, mas já estava tudo pronto: a corda já estava na roldana, devidamente presa. Bastou levá-la para o local mais alto, colocar a corda no seu pescoço e jogá-la. Ela ficou balançando por um bom tempo. Ele a viu, estranhamente, como a tinha visto no momento da traição: seus olhos estavam arregalados e sua boca exibia um grande sorriso.
A porta do celeiro bateu violentamente e fechou. A luz apagou. O homem, surpreso, olhou para os lados e nada viu. A roldana continuava balançando, um pouco mais forte desta vez, agora iluminada apenas pela luz do luar.
Ele percebeu que a roldana balançava como balançou naquela noite, como se estivesse com a corda e com o corpo de sua esposa. Percebeu também que não estava ventando. Ele estranhou e aproximou-se, ficando debaixo da roldana. E, neste exato momento, a roldana parou. E ele viu uma imagem que o aterrorizou: lá estava o corpo de sua esposa. Ela inclinou a cabeça para baixo e o encarou. Ela estava com os olhos arregalados e um grande sorriso.
Logo, a roldana caiu. Um grito foi dado. E tudo ficou silencioso outra vez, com exceção do barulho dos porcos no chiqueiro. Encontraram o corpo do homem de manhã. Quem o encontrou não pode esconder seu horror: apesar da roldana ter esmagado a cabeça, deu para perceber que o homem morrera de olhos arregalados e com um enorme sorriso.
Juntos na vida e juntos na morte! Os desejos humanos são facilmente realizados. “Cuidado com o que você quer, menina, pois pode acabar conseguindo!”, diz o ditado popular. Ambos conseguiram o que desejavam – ela um amor ou desejo satisfeito, ele a morte da traidora. Ambos também conseguiram o que não desejavam – a morte! Coisas da vida, digamos. Coisas da morte, afirmamos!
Desejos podem ser poderosos e perigosos. Nada é mais poderoso do que os desejos de uma mãe para o melhor de seus filhos! E, também, nada pode ser mais perigoso quando elas sentem que não fizeram tudo o que tinham de fazer. Será que as mães sempre ficam satisfeitas com seu amor dado aos filhos? E, quando não, como será tentar voltar atrás e dar tudo o que não conseguiram antes? É possível? É desejável???
A história que se segue mostra a força dos desejos maternos – e seus perigos, ainda mais quando se tenta voltar a um tempo que não pode mais ser retomado.
Um carro aproximou-se da imensa casa rodeada de árvores. O portão, automático, abriu-se e o carro rapidamente entrou iluminado por um raio muito intenso seguido de um trovão retumbante. A chuva começaria logo, mas parecia não importar à mulher dentro do carro. Depois de seguir uma pequena pista feita de pedras, ela estacionou o carro na frente da imensa casa. A chuva começou lentamente e alguns pingos a atingiram. Seu rosto triste mostrava que ela nada tinha sentido.
Dentro da casa a mulher dirigiu-se ao bar, encheu um copo com uísque e sentou-se no imenso sofá na sala. Vieram outros raios e trovões, seguidos de uma forte chuva. A mulher pegou um retrato sobre uma mesinha perto do sofá, que continha a fotografia de um menino, com aproximadamente 10 anos de idade. Ela tomou um longo gole de uísque e algumas lágrimas escorreram de seu rosto. Ela encostou o retrato no seu peito e começou a chorar mais forte.
O barulho da chuva caindo e o soluçar da mulher retumbavam por toda a casa, sendo que seu soluçar parou pelo tocar do telefone. Ela pegou o telefone.
- Ah, é você! – respondeu a mulher, com desprezo. – O que você quer? COMO? Você quer saber se estou bem? CLARO QUE NÃO! Só um medíocre como você poderia perguntar algo assim depois do que aconteceu... NÃO ESTOU GRITANDO! E, sim, ESTOU BEBENDO, SIM! Não é da sua conta o que eu faço... O QUÊ? Como ousa dizer isto, seu CANALHA! Mais do que ninguém EU O AMAVA! NÃO ME FALE DAQUELE DIA!!! DEIXE-ME EM PAZ! – e desligou brutalmente o telefone, indo até o bar para encher o copo com uísque novamente. Voltou-se a sentar no sofá, exatamente como estava sentada antes do telefonema. E segurou o retrato exatamente como tinha segurado antes. Seu soluçar ficou mais alto e suas lágrimas aumentaram.
- Não fui eu, amor! Não fui eu! – ela falava, entre um gole e outro de uísque, entre uma lágrima e outra que caía a cada soluçar. Raios, trovões e chuvas completavam o som do local. Logo, ela adormeceu.
Um trovão muito forte a acordou. Tudo estava apagado, pois a energia elétrica havia acabado por causa do mau tempo. O copo, vazio, estava caído no chão. O retrato ainda estava no seu peito. Ela levantou-se, ainda zonza e com dor de cabeça, sem saber para onde queria ir. Um raio iluminou a sala e ela, intrigada, viu a figura de um menino. O mesmo do retrato.
- Oi, mamãe! – disse o menino, com uma expressão vazia no rosto.
Ela abriu os olhos e sorriu. Não estava mais zonza nem a cabeça doía mais. Ela correu até o menino e o abraçou, ajoelhando-se. Abraçou com muita vontade.
- Meu filho! MEU FILHO! É você, não? Sim, É VOCÊ! Pensei que jamais o viria outra vez! – e abraçava forte o menino, que, por sua vez, não mudava a expressão vazia do rosto. – Estava com saudades de você, meu filho! – disse a mulher, chorando e rindo ao mesmo tempo.
- Eu sei, mamãe! – disse o menino sem maiores emoções. – Estou aqui como você queria.
Ela chorava muito e o abraçava com força.
- Andou bebendo de novo, mamãe? – perguntou o menino com frieza.
Ela olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas.
- Não importa! – ela disse. – O que importa é que você voltou!
Ele manteve-se impassível enquanto andou para o centro da sala, desvinculando-se do abraço dela.
- Naquele dia você bebeu, mamãe! Lembra-se? – ele disse, olhando para o copo caído no chão. – Você e papai brigaram feio na cidade e você me trouxe para cá. Você bebeu muito naquele dia!
Ela levantou-se e, parando de chorar, olhou com preocupação para o menino.
- Por que você está falando estas coisas? Aquele dia passou e você está aqui!
- Aliás, você sempre bebeu! – continuou dizendo o garoto, sem emoções. – Desde que me conheço por gente! Nossa vida sempre foi ver você beber e brigar com papai ou brigar com papai e beber. Sempre a mesma coisa.
Ele pegou o copo do chão e o olhou profundamente. Viu ainda um pouco de uísque no seu interior.
- O que isto tem que eu nunca tive, mamãe? – perguntou o menino. – Meu sorriso, minhas notas na escola, minhas brincadeiras... nada disso conseguia fazer você olhar para mim – você sempre olhou para isto!
Ele continuou olhando para o copo.
- Naquele dia, vindo para cá, tudo ficou escuro por um momento... lembro muito pouco daquele dia. – disse o menino. – Na verdade, a única coisa que me lembro bem foi o seu cheiro disto antes de tudo ficar escuro, mamãe!
- Meu amor! – disse a mulher, aproximando-se do menino, tirando o copo de sua mão, abaixando-se para poder olhar dentro dos seus olhos. – Tudo isto passou, meu amor! Errei muito antes e jamais te dei o amor que deveria ter te dado... mas, agora, com a sua volta, tudo será diferente! Aquele dia acabou e não acontecerá de novo! Não é tarde, meu amor! Tenho outra chance para te dar todo o amor que jamais te dei! Ainda não é tarde!
Pela primeira vez na noite, ele sorriu. Mas ela ficou mais assustada do que propriamente calma com este sorriso. Seu sorriso era aterrorizante, não confortador.
- É tarde sim, mamãe! – respondeu o menino. – Mais tarde do que você imagina!
Ele começou a pular pela sala, gritando histericamente “MAMÃE! MAMÃE! MAMÃE!”, enquanto que os raios, trovões e a chuva continuavam inabaláveis.
- Meu amor, o que aconteceu? – disse a mulher, chorando.
- Você nunca me amou, mamãe! – respondeu o menino, ainda pulando. – Jamais amou alguém!
- EU TE AMO!!! – ela gritou.
Ele parou de pular e a olhou profundamente.
- Não me amou quando eu estava vivo... como poderia me amar agora? – e, no final destas palavras, ele sorriu. O mesmo sorriso aterrorizante de momentos atrás.
Ela parou de chorar e, paralisada, tentou entender as palavras de seu filho.
- Você me matou naquele dia, mamãe! – respondeu o menino, iluminado por um raio. – Desde que você saiu do hospital que não se conforma com isto e vive me chamando... não quis vir aqui, mas tinha de vir depois de tantos chamados.
Ela estava paralisada.
- Não quis vir porque te odeio, mamãe! – ele respondeu. – Mas estou aqui, certo? Vim aqui para te pegar! – ele disse, sorrindo. – Vamos brincar de esconde-esconde? Nunca brincamos disso! Enquanto eu me viro na parede e começo a contar até 50 e você vai se esconder e eu vou te achar... para sempre!
Ele encostou o rosto na parede e começou a contar, falando os números bem alto. Ela, aterrorizada, começou a correr. Subiu as escadas, entrou no seu quarto e fechou a porta, passando a chave com afobação.
- Perdoe-me, meu amor! Meu filhinho amado! – ela, ajoelhada na porta do quarto, falava chorando.
- Eu vou te achar, mamãe! – o menino disse, com sua voz bem perto da porta. A maçaneta da porta começou a ser mexida com força. Ela afastou-se da porta, andando de costas.
- TE PEGUEI, MAMÃE! TE PEGUEI!!! – gritou o menino, surgindo atrás da mulher! – Agora estaremos juntos... PARA SEMPRE!!!
O menino estava diferente: seu rosto apresentou-se deteriorado, assim como seu corpo, sendo que suas roupas estavam rasgadas e sujas. Este era sua verdadeira forma agora.
Ela, horrorizada, não viu a janela nas suas costas e caiu, dando um longo grito de agonia.
O menino, olhando pela janela o corpo de sua mãe no chão, comentou:
- Estaremos sempre juntos, mamãe! – disse o menino, com a expressão do rosto, todo deteriorado, indiferente. – Juntos no INFERNO!!!
A chuva continuou junto dos raios e trovões. E a mamãe e seu filho ficaram eternamente juntos... no INFERNO!
É quase sempre impossível voltar no tempo e refazer o que tinha de ser feito... talvez seja o pior dos terrores humanos! Aproveitar o momento, não perder a chance de fazer o que tem de ser feito ou esperar para depois? Eis uma questão que nunca será resolvida!
Espero, caros leitores, que vocês tenham gostado destas pequenas histórias. Caso sim, um abraço! Caso não... vocês serão os próximos protagonistas destas e outras histórias! E, como viram, o final sempre é infeliz!
Amor Proibido
Na boca o batom borrado
Beijo longo ... apaixonado
Sentou de lado
A mulher que ama
Um homem casado...
A mulher é dominadora
Mas com ele, é dominada...
A felina de garras de fora
Numa criança se transforma...
Ele faz o que quer
Ela também
Homem e mulher ...
Sabem amar como ninguém !
Um realiza o outro
Ela se encanta
Ele a desnuda
Na cama se enrolam
Numa gostosa aventura !
Beijos, carícias
Desejo, delírio
A mulher se transforma
De felina em menina
De loba em cordeiro
De amor se dá por inteiro...
Não tem pudores
Mas escrúpulos sim
Essa menina-mulher
É tesão sem fim !
Vive de gruta molhada
Esperando seu amante
De olhos azuis
Homem delirante...
Alucina essa menina
Toma de seu corpo
Depois de provar de tudo um pouco...
A mulher goza infinitamente
Adora seu novo amante
Ele faz de tudo que ela gosta
Até seus desejos mais delirantes
Ele é feito para ela
Mesmo jeito obsceno
Depravado, insano
Fazem um bom par
De amantes sob os panos...
Escondidos de todos
Amor proibido
O que aumenta mais a libido ...
Sabem que não podem se comprometer
Mas o desejo é forte
Não conseguem ficar sem se ver
Na cama, fazem loucuras
Coisas bem experimentadas
Para a fantasias, serem saciadas.
Ato Consumado
Ronda em minha mente
Infla meu coração
Não sinto os pés no chão
Não sinto os pés no chão
Estou no ar, bailando...
Penso estar nas nuvens
Penso estar nas nuvens
...flutuando
Embriagada pelo beijo
Embriagada pelo beijo
que ronda meus lábios
sem parar...
Sinto nele o sabor
Sinto nele o sabor
do mel destilado
da colméia do AMAR!
Movimenta-se tua boca
Movimenta-se tua boca
na minha...
Meu corpo vibra!
O brincar da tua língua
Meu corpo vibra!
O brincar da tua língua
leva-me ao êxtase!
Alucinante...
Desejo-te ardente, amante
num deleite doce
Entre lençóis desalinhados
...corpos encaixados
Neste enlevo debato-me
e quero mais e mais
saciar-me...
Aos goles a essência
deste balanço frenético
Quais flashes
em línguas febris
com sabor do pecado
...ígneo
Desaguando em mim
ATO CONSUMADO.
Assinar:
Comentários (Atom)


